Aspectos Clínicos e Epidemiológicos:
DESCRIÇÃO:
Doença parasitária que se manifesta sob várias formas: aguda,
indeterminada e crônica.
Fase
aguda : quando aparente, é caracterizada por uma miocardite, na
maioria das vezes só traduzível eletrocardiograficamente. As manifestações
gerais são de febre (pouco elevada), mal-estar geral, cefaléia, astenia,
hiporexia, edema, hipertrofia de linfonodos, hepato-esplenomegalia, meningoencefalite
(rara). Pode apresentar sinal de porta de entrada aparente: Sinal de Romaña
(edema ocular bipalpebral unilateral) ou Chagoma de Inoculação (lesão cutânea
semelhante a um furúnculo que não supura).
Passada
a fase aguda aparente ou inaparente, o indivíduo permanece na Forma
indeterminada: infecção assintomática, que pode nunca se evidenciar
clinicamente ou se manifestar anos ou décadas mais tarde da infeção inicial.
As
Formas crônicas com expressão clínica podem
ser:
Cardíaca:
Que
é a mais importante forma de limitação ao doente chagásico e a principal causa
de morte. Pode apresentar-se sem sintomatologia, mas com alterações
eletrocardiográficas (principalmente bloqueio completo de ramo direito), ou
ainda como síndrome de insuficiência cardíaca progressiva, insuficiência
cardíaca fulminante, ou com arritmias graves e morte súbita. Seus sinais e
sintomas são: palpitação, dispnéia, edema, dor precordial, dispneia paroxística
noturna, tosse, tonturas, desmaios, acidentes embólicos, extrassistolias,
desdobramento de segunda bulha, sopro sistólico, hipofonese de segunda bulha e
sopro sistólico. As principais alterações eletrocardiográficas são: bloqueio
completo do ramo direito (BCRD), hemibloqueio anterior esquerdo (HBAE),
bloqueio AV do primeiro, segundo e terceiro graus, extrassístoles ventriculares,
sobrecarga de cavidades cardíacas, alterações da repolarização ventricular,
dentre outras. O Rx de tórax revela cardiomegalia;
Digestiva:
Alterações ao longo do trato digestivo, ocasionadas por lesões
dos plexos nervosos (destruição neuronal simpática), com consequentes alterações
da motilidade e morfologia, sendo o megaesôfago e o megacólon as manifestações
mais comuns. No megaesôfago, observa-se disfagia (sintoma mais freqüente e
dominante), regurgitação, epigastralgia ou dor retroesternal, odinofagia (dor à
deglutição), soluço, ptialismo (excesso de salivação), emagrecimento (podendo chegar
a caquexia), hipertrofia das parótidas. No megacólon: constipação intestinal
(instalação lenta e insidiosa), meteorismo, distensão abdominal, fecaloma. As
alterações radiológicas são importantes no diagnóstico da forma digestiva;
Forma
mista: Quando o paciente associa a forma cardíaca com a digestiva, podendo
apresentar mais de um mega;
Formas
nervosas e de outros megas: São aventadas, mas não parecem
ser manifestações importantes da doença;
Forma congênita: Os
sinais clínicos são a hepatomegalia e esplenomegalia, presente em todos os
casos, icterícia, equimoses e convulsões decorrentes da hipoglicemia. Não há
relato de ocorrência de febre.
SINONÍMIA: Tripanosomíase Americana
AGENTE
ETIOLÓGICO: É o Trypanosoma cruzi, protozoário flagelado da ordem
Kinetoplastida,
família Trypanosomatidae, caracterizado
pela presença de um flagelo e uma
única mitocôndria. No sangue dos vertebrados, o Trypanosoma
cruzi se apresenta sob a forma de trypomastigota
e, nos tecidos, como amastigotas. Nos invertebrados (insetos vetores), ocorre um
ciclo com a transformação dos
tripomastigotas sangüíneos em epimastigotas, que depois se
diferenciam em trypomastigotas metacíclicos, que são as formas
infectantes acumuladas nas fezes do inseto.
RESERVATÓRIOS:
Além do homem, mamíferos domésticos e silvestres têm sido
naturalmente encontrados infectados pelo Trypanosoma
cruzi, tais como: gato, cão, porco doméstico,
rato de esgoto, rato doméstico, macaco de cheiro, sagüi, tatu,
gambá, cuíca, morcego, dentre outros. Epidemiologicamente os
mais importantes são aqueles que coabitam ou estão muito
próximos do homem, como o cão, o rato, o gambá, o tatu, e até
mesmo o porco doméstico, encontrado associado
com espécies silvestres na Amazônia. As aves e animais de
“sangue frio” (lagartos, sapos, outros) são refratários à
infecção.
VETORES:
Triatoma infestans, Triatoma
brasiliensis, Panstrongylus megistus, Triatoma
pseudomaculata,
Triatoma sordida,
dentre outros.
MODO
DE TRANSMISSÃO: A natural ou primária é a vetorial, que se dá através das fezes
dos triatomíneos (“barbeiros” ou “chupões”), que defecam
após o repasto. A transmissão transfusional
ganhou grande importância em virtude da migração
de indivíduos infectados para áreas urbanas com ineficiente
sistema de controle das transfusões de sangue. Transmissão congênita ocorre,
mas muitos dos conceptos têm morte prematura.
COMPLICAÇÕES:
Na fase aguda: miocardite, ICC grave e meningoencefalite. Na
fase crônica: fenômenos tromboembólicos devido a
aneurisma de ponta do coração. Esofagite,
fístulas e alterações pulmonares (refluxo), em conseqüência do
megaesôfago. Volvos, torções e fecalomas, devido a megacólon.
Criança
com chagoma característico no olho direito e edema na pálpebra: o sinal de
Romanã.
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DIAGNÓSTICO:
Clínico-epidemiológco e/ou laboratorial. Os exames específicos
podem ser parasitológicos para identificação do T.
cruzi no sangue periférico: pelo
método de Strout, exame a fresco, gota espessa, esfregaço corado,
creme leucocitário, xenodiagnóstico; ou sorológicos: hemaglutinação
indireta, imunofluorescência, ELISA.
TRATAMENTO:
Depende das formas da doença: se for congênita ou aguda
(transmissão vetorial ou por transfusão), o tratamento
específico pode ser feito com o
benzonidazol, na dose de 8mg/kg/dia VO (adultos ou crianças) por 60
dias; ou com nifurtimox, em adultos, 8-12mg/kg/dia, VO (adultos
ou crianças) em intervalos de 8/8 horas,
durante 60 a 90 dias. O tratamento sintomático
é feito com as mesmas drogas das outras cardiopatias: cardiotônicos, diuréticos,
antiarrítmicos, vasodilatadores, dentre outros.
Por vezes, é necessária a colocação de marcapasso. Nas formas
digestivas, pode-se indicar tratamento conservador
(dietas, laxativos, lavagens) ou cirurgias,
na dependência do estágio da doença.
MEDIDAS
DE CONTROLE: Da transmissão vetorial, faz-se através da melhoria ou
substituição das habitações que propiciam a domiciliação
dos “barbeiros”, ou do controle químico
do vetor (uso regular e sistemático de inseticidas de poder
residual intra e peridomiciliar). A transmissão transfusional
deve ser evitada através da fiscalização do controle da
qualidade do sangue transfundido, o
que é feito pela triagem sorológica dos doadores. O controle da transmissão
em laboratório deve ser feito através do rigoroso uso das
normas de biossegurança. Não existe forma de
prevenção da forma congênita.
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